sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Contos Bodais I - Tobby

Tobby era um pequeno bode comedor de palavras. Os seus vizinhos não gostavam dele porque ele sempre estragava tudo: nenhum pensamento conseguia se concluir porque Tobby sempre aparecia e destruía alguma parte importante do edifício intelectual que começava a se erguer.

Alguém tentava montar um silogismo e lá vinha Tobby, comendo uma das premissas e jogando por terra a conclusão. Outro tentava construir um soneto e lá vinha Tobby, engolindo palavras dos versos e destruindo a métrica poética. Um terceiro tentava afirmar uma simples sentença sobre qualquer coisa e lá vinha Tobby comendo o sujeito ou o predicado, deixando a frase inútil e sem sentido. Todos detestavam Tobby.

Os seus pais, bodes velhos e educados, ensinaram-lhe a ser seletivo com o que comia; educaram a gula do pequeno Tobby. Em vez de devorar qualquer coisa que via pela frente, os pais ensinaram-lhe a comer somente as palavras fora de lugar, os versos mal-feitos, os sofismas e as afirmações equivocadas. De destruidor de raciocínio, Tobby se transformou em verdadeiro catalisador do pensamento. Todos os seus vizinhos queriam que Tobby olhasse o pensamento deles e, qual agricultor experiente, comesse os cardos errôneos da semeadura intelectual.

Passaram a venerá-lo como um ser supremo, quase um deus, condição mesma para a construção de qualquer pensamento. Tobby, satisfeito, sempre pensava que não agia nada de diferente: continuava comendo pensamentos como sempre fizera. Só educara o seu paladar, para degustar algumas coisas e não outras. Mas isto fez toda a diferença: todos os vizinhos do pequeno Tobby, agora, só pensavam na presença do pequeno bode.

O tempo passou e Tobby, um dia, ficou doente e morreu. Os seus vizinhos enlouqueceram: e agora? Quem lhes iria podar os erros do pensamento? Quem iria arrancar as ervas daninhas dos raciocínios? Frenéticos, começaram a se sacudir e, neste sacolejar, as palavras que estavam menos firmes eram arremessadas longe. Perceberam que, com isso, acontecia algo parecido com o que Tobby fazia: algumas partes do pensamento eram lançadas fora. E assim passaram a construir os seus pensamentos, tirando-lhes não mais os elementos que aprazia ao pequeno Tobby comer, mas os que se soltavam quando eles sacolejavam. Diziam que era "o espírito de Tobby" que assim agia quando eles sacolejavam. E, assim, os seus pensamentos ficaram cada vez mais pobres e incoerentes, devido à retirada aleatória de seus elementos constituintes.

Resumindo a história, Tobby, o bode, passou a vida toda comendo pensamentos; no princípio os destruía e, depois, os aperfeiçoava. Os seus vizinhos passaram a vida toda arrancando pedaços de pensamentos: primeiro os purificavam e, depois, os destruíam. Todos continuaram fazendo sempre a mesma coisa, mas Tobby passou de um bode destruidor a um bode revisor crítico e, os seus vizinhos, passaram de eficazes jardineiros intelectuais a insanos que arrancavam aleatoriamente as mudas da sua plantação intelectual.

Foi daí que surgiu aquele ditado: "quem não bode se sacode". E os sacolejantes vizinhos do pequeno bode nunca mais conseguiram construir pensamentos como os que faziam nos áureos tempos de Tobby.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Manual do Bode Torto III: O Bode Extrapolador

Este bode requer um pouco mais de desenvoltura para ser elegantemente representado, mas consegue obter resultados muito bons na luta contra o vigarismo intelectual. A sua máxima é: aumente, mas não invente. Procura aproveitar-se do fato de que o público é sensivelmente mais influenciável por floreios de retórica ou por chistes bem-humorados do que pela frieza cartesiana do encadeamento lógico dos argumentos: o Bode Extrapolador tem por objetivo expôr ao ridículo ao ou absurdo a argumentação do adversário, levando-a a extremos a que o próprio adversário não levaria.

Seu modus operandi é simples: é preciso tomar cada afirmação no seu sentido mais amplo possível, cada ressalva no sentido mais estreito possível, cada definição no seu sentido mais abrangente ou mais restritivo de acordo com a extrapolação que for mais conveniente no momento. Este bode exagera as afirmações do seu adversário, com o objetivo de torná-las insustentáveis. Ele, em suma, cria ou revela espantalhos para expôr ao descrédito o seu interlocutor.

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Exemplo do Bode Extrapolador, em uma discussão sobre criacionismo:

PICARETA: (...) e, do exposto, nós somos capazes de perceber que a Teoria da Evolução possui inúmeras falhas e lacunas, de modo que podemos ter a certeza de que cada um dos animais foi criado por Deus "segundo a sua espécie", não havendo nenhuma possibilidade de que um peixe vire um lagarto, depois um mamífero e, por fim, o homem.

BODE EXTRAPOLADOR: Do jeito que você fala, passa a impressão de que o Criacionismo não tem, ele próprio, enormes lacunas! E os fósseis, meu senhor, e os fósseis? Por acaso Deus colocou fósseis nas rochas só para sacanear os geólogos e os biólogos?

PICARETA: Os fósseis, sem dúvidas, são animais que existem ou já existiram. A extinção dos animais é um fato; dizer que animais foram extintos, contudo, não é a mesma coisa que dizer que eles tenham evoluído!

BODE EXTRAPOLADOR: Não, não! Por esta tua lógica, dizer que eles foram extintos é o mesmo que dizer que eles continuaram existindo!

PICARETA: ? Como assim? Claro que não. Dizer que eles foram extintos é dizer que eles deixaram de existir.

BODE EXTRAPOLADOR: E como é possível que outros animais, diferentes deles, existam ainda nos dias de hoje? Se eles foram extintos, deveriam ter deixado de existir e, hoje, não existiria mais nada. Ou Deus ficava dando "retoques" na sua criação e, após a experiência frustrada com os dinossauros, resolveu fazer um "puxadinho" com os mamíferos?

PICARETA: Não sei de onde você tirou isto. Todos os animais foram criados ao mesmo tempo. Alguns foram extintos e, outros, não. Não sei qual a dificuldade em entender isso.

BODE EXTRAPOLADOR: É. Só alguns animais foram extintos e - impressionante! - estes que foram extintos são EXATAMENTE os que formaram fósseis! Os que não formaram, continuaram existindo! Acho até que o senhor conseguiu descobrir, afinal, a causa da extinção deles: eles morreram porque foram repentinamente transformados em pedra e, com isso, se extinguiram!

PICARETA: Isto é mentira. Há fósseis de animais que ainda existem, como as libélulas, por exemplo.

BODE EXTRAPOLADOR: É, o problema é que os fósseis que temos das libélulas mostram-nas gigantescas! Para quem não acredita em evolução, o senhor está me saindo um grande piadista: então os animais não podem evoluir mas diminuir de tamanho eles podem? E por qual motivo nós não encontramos mini-tiranossauros-rex mordendo os nossos calcanhares por aí?

PICARETA: Eu não estou dizendo nada disso e o senhor está fugindo do tema. O fato é que o mais não pode vir do menos e, portanto, a teoria da evolução é um absurdo metafísico.

BODE EXTRAPOLADOR: O senhor não entende nem de evolução e nem de metafísica. Se o mais não pudesse vir do menos a galinha não poderia vir do ovo, ó Einstein!

PICARETA: Mas acontece que o ovo já é uma galinha em potência...

BODE EXTRAPOLADOR: Verborragia barata; se o senhor tivesse a honestidade de aplicar os mesmos conceitos, bastaria dizer que um conjunto de aminoácidos é já uma célula em potência, ou que um peixe é potencialmente um mamífero - aliás, estão aí as baleias no oceano para o exemplificar magistralmente. "Potência" não significa simplesmente "o que pode ser"? Pelo que estou vendo, então, o senhor está simplesmente dizendo que a Teoria da Evolução é falsa porque ela não é possível, e ela não é possível porque não tem possibilidade de ser verdadeira! Fantástico!

PICARETA: Em todo caso, Deus criou cada animal "segundo a sua espécie", porque as espécies de animais são muito bem separadas entre si.

BODE EXTRAPOLADOR: Pelo que o senhor está dizendo, então, Deus criou não somente os cachorros, mas especificamente os poodles, os rotweillers, os filas, os labradores, os dálmatas, os huskies siberianos, os bassets, os yorkshires, os pitbulls, os chihuahuas, os pinscher, os mastins, os pastores alemães, os beagles, os pequineses, os cocker spaniels e - claro - os vira-latas e os cérberos, e isto para ficar só nos cachorros, o que transformaria o Paraíso em um verdadeiro inferno e explicaria o porquê de Adão e Eva terem se esforçado tanto para serem expulsos de lá!

PICARETA: O senhor está fazendo graça. No final, o senhor sabe muito bem que o pensamento não pode vir da matéria.

BODE EXTRAPOLADOR: Sim, e sei também que a ciência não pode vir da estupidez. E nem por isso nós podemos dizer que um estúpido, ao final de contas, não possa estudar e se tornar um cientista. Ainda há esperança para você, meu caro amigo!

PICARETA: O senhor está confundindo a evolução do conhecimento de uma pessoa com a evolução das espécies!

BODE EXTRAPOLADOR: Eu não estou confundindo é nada, é o senhor que está dizendo que as coisas não podem evoluir quando, na verdade, até esta nossa conversa evolui, e o senhor já mudou de idéia e já aceita que o Jardim do Éden não podia ser ao mesmo tempo um canil bagunçado e o Paraíso Terrestre!

PICARETA: Uma coisa é a evolução dentro da espécie e outra é a evolução de uma espécie em outra!

BODE EXTRAPOLADOR: Claro. A primeira destas coisas é um fato observável e, a segunda, uma teoria bastante razoável, que justamente por isso é chamada de Teoria da Evolução. O que não é nada razoável é a tua teoria de que alguns animais não existem mais porque foram transformados subitamente em pedras, ou que alguns animais (como as libélulas) "involuem" ficando cada vez menores - talvez até desaparecer e, com isso, se extinguirem né?

PICARETA: Eu não disse nenhuma dessas coisas! Não disse!

BODE EXTRAPOLADOR: É claro que disse, meu senhor, volte e leia! Também o senhor diz ora uma coisa e ora outra, como quer que alguém lhe leve a sério?

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É este o espírito do Bode Extrapolador: pegar as afirmações e interpretá-las no sentido mais cômico e absurdo possível, tirar as conseqüências mais forçadas daquilo que o seu adversário diz. A técnica deste bode é simples e genial, porque através dela é possível desacreditar a posição do adversário sem que seja preciso apresentar absolutamente nada em favor da própria tese.

Note-se que, neste exemplo, não foi apresentado o menor argumento em favor da tese evolucionária. O Bode Extrapolador apenas reduziu ao ridículo as argumentações do picareta criacionista, tirando conseqüências cômicas delas e as expondo, assim, ao descrédito. Por meio desta técnica, a posição defendida pelo bode torna-se plausível não por ter argumentos a apresentar em seu favor, mas tão-somente por aparecer aos olhos do público como a única alternativa que restou após a ridicularização das posições contrárias.

Esta é a essência de um Bode Torto, convém repetir: não defender racionalmente uma posição (isto, como nós já dissemos, é necessário que alguém faça, mas não um Bode Torto), e sim neutralizar a imposição TROLL da posição oposta. Note-se que o Bode Extrapolador do exemplo acima sequer precisa entender alguma coisa da Teoria da Evolução para desmascarar o criacionista.

Algumas dicas para otimizar o Bode Extrapolador:

- A maior parte das argumentações têm ao mesmo tempo falhas verdadeiras e erros de interpretação. Extrapolar, no primeiro caso, é inclusive oferecer uma prova formal da falsidade da tese, por reductio ad absurdum. No segundo caso, extrapolar é criar um espantalho (que pode surgir inclusive da falta de precisão de quem propõe a tese). Um bom Bode Extrapolador combina estas duas coisas, e confunde-as, de modo a fazer parecer que os seus espantalhos são na verdade o contra-exemplo que desmente a tese apresentada.

- Espantalhos podem ser identificados e, se não forem bem escolhidos, podem levar o Bode Extrapolador ao descrédito. Nunca convém usar somente espantalhos criados. É preciso usar espantalhos descobertos, i.e., verdadeiras falhas lógicas na argumentação do adversário (reductios ad absurdums) para proteger o Bode Extrapolador. Em todo caso, nunca deve ser usado um espantalho muito grosseiro. Como foi dito acima, este tipo de Bode requer uma certa elegância que não se adquire a não ser pela prática ou até mesmo pela arte. Caso comece a dar errado, a sugestão é tirar o Bode Extrapolador de campo para dar lugar a outro soldado desta manada, como o Bode Conciliador.

Não devemos nunca esquecer que o público é o alvo. Diante de um picareta que está provocando o caos exatamente por seduzir o público, importa é reduzi-lo ao descrédito. Isto se consegue de maneira tão mais eficiente quanto mais espirituoso for o Bode Extrapolador. E, uma vez ridicularizado, o vigarista vai ter muito trabalho para voltar a adquirir o prestígio que detinha antes. Uma vez que os espinhos e as ervas daninhas sejam devastadas pelo exército dos Bodes Tortos, o campo estará apto a ser cultivado novamente.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Manual do Bode Torto II: O Bode Acusador

Este bode também é facílimo de ser representado, e tem por máxima: afirme gratuitamente. Possui um enorme potencial de irritar o adversário, mas usualmente é melhor empregado se for combinado com outros bodes da manada anti-picaretagem (como por exemplo o Bode Extrapolador, o Bode Apelidador ou o Bode das Justificativas Estapafúrdias). A sua filosofia é bastante simples, porque se baseia em eximir-se de apresentar os argumentos das suas afirmativas. Basta acusar, acusar e acusar. Ora, diante da insistência na acusação (que fica ainda mais interessante se empregar técnicas de programação neurolingüística e variar a forma como ela é apresentada) só existem duas opções para o picareta que se encontra diante do Bode Acusador: ou ele responde (e demanda tempo e energia nisto, o que é nosso objetivo) ou não responde e assume o risco da acusação "pegar" (o que faz com que ele perca a credibilidade). Em qualquer um dos casos, nós atingimos o nosso intento e saímos vitoriosos.

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Exemplo de emprego do Bode Acusador, em uma discussão sobre vegetarianismo:

PICARETA: ... e por conta disso é um absurdo que as pessoas continuem matando seres vivos para se alimentar deles, espalhando a dor pelo mundo de maneira assim desnecessária, quando poderiam perfeitamente se nutrir de uma maneira mais harmoniosa por meio de uma saudável alimentação macrobiótica.

BODE ACUSADOR: Grande besteira, é claro que o senhor ia falar isso. Aposto que o senhor é ligado ao George Ohsawa e está advogando em causa própria.

PICARETA: ?? Como assim? De onde você tirou que eu sou ligado ao Ohsawa?

BODE ACUSADOR: E por acaso não é?

PICARETA: Não, não sou.

BODE ACUSADOR: É sim senhor. O senhor está defendendo exatamente a filosofia de vida inventada por ele, vai me dizer que não é ligado a ele? Ah, conta outra! Vou passar a chamá-lo agora de Picareta Ohsawa.

PICARETA: Eu não sou ligado ao Dr. Ohsawa! O que isso tem a ver? Por acaso uma pessoa agora não pode abraçar uma idéia de outra pessoa sem que esteja ligado a esta pessoa? E ainda que eu tivesse alguma ligação com o Dr. Ohsawa, no que isto me impediria de defender a alimentação macrobiótica? Ou o senhor vai querer, por acaso, dizer que só os que podem defender uma idéia são os que não têm, absolutamente, nenhuma ligação (nem sequer de afinidade intelectual) com ela? Saiba que isto é um grande absurdo. Eu não tenho nada com o Dr. Ohsawa e, ainda que tivesse, isto não faria com que a macrobiótica fosse falsa!

BODE ACUSADOR: Picareta Ohsawa, fique calmo. Por que está se justificando tanto? Já posso ver que o senhor é, na verdade, financiado pela indústria do George Ohsawa!

PICARETA: Isto é um ultraje! Eu não sou financiado por ninguém e só estou aqui defendendo o meu ponto de vista por achar que ele é correto. Aliás, eu não tenho nenhuma ligação com o Dr. Ohsawa para além da admiração intelectual pelo trabalho que ele produziu e que é um dos mais importantes para a humanidade recente. Nunca o vi, nunca escrevi-lhe, nunca falei com ele, nem nada. E de onde foi que saiu esta história de "indústria"? Desde quando existe alguma indústria interessada em impôr a alimentação macrobiótica?

BODE ACUSADOR: O senhor, além de ser ligado ao fundador da filosofia macrobiótica, é um intolerante! Pois o senhor quer que todas as pessoas abracem este tipo de alimentação!

PICARETA: Sim, é claro que eu quero que todo mundo abrace esta alimentação, que é muito saudável, muito mais humana e muito melhor para o planeta...

BODE ACUSADOR: E, quem não quiser, que seja exterminado como os judeus dos campos de concentração!

PICARETA: Mas assim já é demais! Eu nunca na minha vida sugeri que quem não fosse VEGAN devesse ser exterminado como os judeus nos campos de concentração, e isto é um absurdo completo. Se eu defendo que não devemos comer animais para evitar a multiplicação da dor nos seres vivos, como é possível que eu, ao mesmo tempo, possa defender que seres humanos sejam mortos??

BODE ACUSADOR: Ué, o senhor é todo contraditório, senhor Picareta Ohsawa. Afinal de contas, o senhor defende a filosofia do George Ohsawa ao mesmo tempo em que diz que ele é um farsante que não merece confiança...

PICARETA: Eu nunca disse isso!

BODE ACUSADOR: Claro que disse, o senhor ficou indignado quando eu disse que o senhor estava ligado a ele. Este tipo de indignação só surge quando nós somos associados a pessoas de vida imoral ou indecente. Ou, no caso, um farsante.

PICARETA: O senhor tem um jeito particular de argumentar! É claro que o Dr. Ohsawa não é um farsante, muito pelo contrário, trata-se de um homem genial responsável por uma das mais importantes descobertas do século, como eu dizia anteriormente, porque a sua filosofia de vida é diretamente responsável por uma multidão de pessoas mais saudáveis e mais empenhadas em eliminar o sofrimento do planeta.

BODE ACUSADOR: A-há! Rasgando-se em elogios assim ao Ohsawa, é óbvio que o senhor está sendo financiado por ele, como eu disse desde o início!

PICARETA: Não estou não!

BODE ACUSADOR: Está sim!

PICARETA: Não estou não!

BODE ACUSADOR: Está sim! E além de estar vendido à indústria macrobiótica japonesa o senhor é um hipócrita, porque não quer que os animais sofram mas não se preocupa nem com os sofrimentos dos vegetais e nem com os sofrimentos dos seres humanos que precisariam se privar de comer as coisas das quais gostam. Daqui para os campos de concentração é um pulo!

PICARETA: Não existe uma indústria macrobiótica japonesa! Além do mais, este negócio do sofrimento não tem nada a ver. Todo mundo sabe que os diversos seres humanos experimentam sofrimentos em níveis diferentes, de acordo com a sua capacidade de conscientização a respeito do mundo ao seu redor. Esta escala hierárquica vai dos que mais têm sentimentos - os animais, incluindo os homens - até os que têm menos sentimentos, como os vegetais e os minerais. Destes últimos os homens podem se utilizar, relativamente, porque tirar umas folhas ou umas frutas não machuca tanto assim o vegetal.

BODE ACUSADOR: Hipocrisia, o senhor acredita em "escala hierárquica" nenhuma. Afinal, o senhor nega a cadeia alimentar, que é uma das escalas hierárquicas mais básicas da natureza. E também não se importa nem um pouco com os seres humanos que não querem passar pelo sofrimento de deixarem de comer o que gostam.

PICARETA: Uma coisa não tem nada a ver com a outra! Uma coisa é a escala de sofrimentos que é evidente, ou por acaso o senhor discorda dela??? Outra coisa completamente diferente é esta mítica "cadeia de alimentação", que outra coisa não é que não uma desordem da natureza brutal que nós, seres humanos, enquanto animais racionais, precisamos eliminar!

BODE ACUSADOR: Mas é exatamente isto o que diz a indústria japonesa da macrobiótica do George Ohsawa, que está financiando o senhor e o senhor não quer admitir! Hipócrita Ohsawa, o senhor é um desonesto mesmo!

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E assim sucessivamente. Com o acúmulo de acusações (esta é a idéia: acumular acusações), ou o interlocutor gasta muito tempo defendendo-se delas (no exemplo acima, perceba que ele pouco ou nada argumentou a favor da sua tese de que a macrobiótica é uma coisa positiva: isto é uma vitória) ou termina por aceitá-las e, assim, é visto diante do público como detentor de um rótulo odioso. Ponto para o Bode Torto em qualquer um dos casos.

Percebam que as acusações a serem buscadas precisam ser direcionadas; não adianta tanto ficar jogando coisas ao acaso, que não tenham nenhuma relação com o assunto. No exemplo, foi citado o Dr. George Ohsawa - fundador da macrobiótica; um pouco de erudição e de conhecimento do objeto discutido é muito útil para tornar os golpes do Bode Acusador mais eficientes. Nada que dois minutos de Google não resolvam.

Algumas regras básicas para otimizar a escolha das acusações são:

- Procurar o estado da questão. Procurar entender, em outros fóruns, do quê pessoas como o seu interlocutor são geralmente acusadas (por exemplo, católicos de "fanáticos inquisidores", muçulmanos de "terroristas", ateus de "imorais arrogantes", gays de "promíscuos depravados", conservadores de "homofóbicos", etc.).

- Se o interlocutor for conhecido, melhor ainda. É possível descobrir alguma coisa da qual ele realmente se envergonhe (por exemplo, no exemplo acima é possível que o vegetariano tenha uma foto em algum álbum de rede social em um churrasco, e aí basta ficar acusando ele de não fazer o que prega; etc.). As pessoas sempre têm um ponto fraco, algo que as irrita e as tira do sério.

- Fazer ilações do tipo "tese defendida - expoente da tese", como no exemplo acima. Se alguém é vegetariano, acuse-o de estar ligado a algum ideólogo do vegetarianismo. Se alguém é americano anti-Obama, acuse-o de estar sendo financiado pelo Tea Party. Se é comunista, pela KGB. É geralmente mais fácil achar acusações para o "grupo mais conhecido" do que para o seu interlocutor, e associá-lo àquele grupo é uma maneira eficaz de multiplicar as possibilidades acusatórias do Bode Acusador. A idéia é abusar do rótulo odioso mesmo.

Esta busca pela acusação perfeita deve estar sempre entre os objetivos principais de um Bode Acusador. As dicas acima naturalmente não são exaustivas, cabendo enorme parte do sucesso deste bode à sua criatividade e desenvoltura no ato da discussão.

Outra coisa interessante é identificar a acusação que mais irrita o interlocutor e insistir nela. Assim ele fica mais tentado a se defender dela, desperdiçando mais do seu tempo e fazendo assim com que a sua picaretagem seja neutralizada com mais eficiência e mínimo esforço de nossa parte. E, com isso, conseguimos transformar a internet em um lugar melhor para todos nós.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Princípios: O pasto de um bode torto

Alguns hão de discordar dos princípios de nossa manada, argumentando que a forma mais eficaz de acabar com os trolls é simplesmente estabelecendo regras mais rígidas para a moderação dos fóruns e blogs, com moderação ou expulsão sumária dos baderneiros tão logo eles sejam identificados. Com isto, sem dúvidas, nós concordamos facilmente. O problema é que nem todos os fóruns e blogs interessantes da internet estão nas nossas mãos e, portanto, temos que estar preparados para a contingência de nos depararmos com um troll em um sítio sobre o qual nós não temos nenhum poder coercitivo. Nestas situações, o que fazer?

Nem todas as ferramentas são igualmente úteis para todas as situações! Isto é muito óbvio. Não serve um serrote para bater um prego numa parede, um pincel para cortar um pedaço de madeira e nem um martelo para pintar uma cerca. Do mesmo modo os papéis de internet. Não serve um bode torto para discutir em qualquer situação, e nem nós propomos semelhante idéia (a nosso ver estúpida). Um bode torto - é o que defendemos - é extremamente útil para debater em algumas situações específicas, nas quais ele é capaz de neutralizar eficazmente o comportamente deletério dos picaretas intelectuais.

Que situações são essas? Basicamente, qualquer situação onde o troll não possa ser contido por "força física" (expulsão ou moderação) e esteja exercendo uma má influência na discussão. Disto, segue-se que existem pelo menos duas situações em particular nas quais é preferível não soltar um bode torto:

1. onde seja possível simplesmente impedir o picareta de trollar, por meio da moderação (nestes casos, tal atitude é sem dúvidas preferível); e

2. onde a força dos debatedores honestos sobrepuje a dos trolls, de modo que seja possível (com razoabilidade) pôr à mostra a picaretagem dos trolls pelas vias da argumentação racional.

Tenhamos sempre isto com clareza: o nosso objetivo é restabelecer a ordem e possibilitar o mútuo enriquecimento intelectual entre pessoas honestas através da internet. Por isso que é sempre preferível conter os vândalos à força ou vencê-los por meio do debate honesto. Somente na situação em que o primeiro não seja possível e o segundo não seja razoável é que devemos chamar os bodes tortos para esmagar os picaretas virtuais.

Exemplos dessas situações nós temos aos montes. Existem muitos fóruns e blogs interessantes que não estão sob nosso domínio e dos quais com freqüência vale a pena participar. O moderador destes espaços pode estar ausente, pode ser tolerante aos trolls, pode ser ele próprio um troll (ou alguém que defende por princípio uma liberdade absoluta na discussão), etc. Outras vezes, acontece do espaço de discussão ser passível de perder a sua credibilidade caso as manifestações de dissonância sejam sempre tolhidas - e, portanto, em tais casos é preciso estar preparado para responder à relativa liberdade da qual gozam os picaretas intelectuais. Ainda: com freqüência nós nos encontramos em situações tais onde simplesmente fomos jogados "no meio da confusão", como (p.ex.) em threads de email (ou do Google Buzz, do Twitter, de mentions do Facebook, etc.) às quais fomos lançados e onde as nossas únicas opções são discutir ou dar silent - e muitas vezes vale a pena calar os ignorantes e impedir a disseminação da vigarice intelectual. Sem contar que vigaristas sempre existiram e sempre vão existir, e é sem dúvidas preferível dispersar as energias deles dentro de um espaço contido e controlado (a nossa discussão com eles) do que deixá-los livres para trollar na internet inteira. Portanto, pastos para um bode torto sempre haverá, e situações nas quais estes ruminantes serão necessários sempre podem ser encontradas. Sábio é o bode capaz de discerni-las.

Cabe sempre lembrar que um bode torto é uma arma, e uma arma destrutiva, e como tal ele deve sempre ser empregado. É uma questão de senso comum saber que não se devem usar armas em todas as situações; mas qualquer pessoa de bom senso também há de convir que existem situações nas quais elas são úteis e necessárias. É para estas situações que nós existimos; é este o nosso propósito; é (somente) com relação a este objetivo que nós aceitamos ser julgados.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Manual do Bode Torto I: O Bode Questionador

Este é um dos bodes mais simples de ser representado. A sua máxima é: faça perguntas, ignore as respostas. As perguntas podem ser simples ou mais intrincadas, podem ser relevantes ao assunto tratado ou podem guardar com ele apenas uma vaga analogia: tanto faz. Este bode se aproveita daquela verdade universal que diz que, para a esmagadora maioria dos casos, dá muito mais trabalho responder a uma pergunta do que fazê-la. Com isso nós conseguimos fazer com que o vândalo esgote as suas energias elaborando a resposta à pergunta (ou, se ele não responder, fazemos entrar em cena o Bode Acusador para dizer que ele não responde a nenhuma das perguntas que lhe são feitas: o resultado prático é o mesmo), exatamente como ele faz conosco.

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Exemplo de emprego do Bode Questionador, em uma discussão sobre política:

PICARETA: Tudo isto é uma grande bobagem, temos que ser contra esta nefasta influência americana neoliberal que tem interesse em fazer com que os países do Terceiro Mundo continuem a ser subdesenvolvidos e explorados.

BODE QUESTIONADOR: E por acaso os Estados Unidos são um país neoliberal? Além disso, por qual motivo o neoliberalismo exigiria que os países do Terceiro Mundo continuassem subdesenvolvidos?

PICARETA: Todo mundo sabe que os Estados Unidos são o maior representante global do Neoliberalismo, e interessa a este modelo econômico manter os países do Terceiro Mundo em seu subdesenvolvimento exatamente porque ele trabalha com a lógica capitalista de mercado, que exige a existências dos explorados para que os exploradores possam prosperar na vida.

BODE QUESTIONADOR: E como é possível que os Estados Unidos seja representante deste modelo Neoliberal se o presidente é o Obama?

PICARETA: Bom, a eleição do Obama representou de fato uma grande vitória popular, mas não podemos nos esquecer de que os Estados Unidos são, histórica e institucionalmente, um país onde o Neoliberalismo lançou as suas raízes mais profundas e...

BODE QUESTIONADOR: Então o Obama é um expoente do Neoliberalismo?? É isso??

PICARETA: O Obama não é um expoente do Neoliberalismo! As coisas, no entanto, são um pouco mais complicadas. A atuação externa de um país deve ser classificada historicamente, de acordo com a política tradicionalmente utilizada nas suas relações internacionais.

BODE QUESTIONADOR: Eu quero é saber por qual motivo os Estados Unidos são um exemplo de país neoliberal. Além disso, a lógica capitalista de mercado não exigiria que os países consumidores tivessem dinheiro para consumir e, portanto, que eles se desenvolvessem?

PICARETA: Eu já disse que os Estados Unidos são um exemplo de país neoliberal, porque, historicamente, as suas relações internacionais foram marcadas pela filosofia neoliberal, a qual, como já explicado, exige que o mundo seja dividido entre exploradores e explorados, como condição necessária para a produção e o acúmulo de riquezas. Você vai por acaso negar que os Estados Unidos são um dos países mais ricos do mundo?

BODE QUESTIONADOR: Por favor, aponte as características neoliberais dos Democratas americanos, partido do presidente Obama, para justificar a sua tese de que os Estados Unidos são um país Neoliberal. Além disso, não lhe parece óbvio que se o país for pobre ele não vai conseguir comprar os produtos dos países desenvolvidos e, portanto, o lucro que eles estão esperando não virá? Qual a lógica disso?

PICARETA: !! OS DEMOCRATAS AMERICANOS NÃO SÃO NEOLIBERAIS. E isto que tu estás falando é exatamente uma das grandes contradições intrínsecas do Capitalismo, e é exatamente por isto que ele está fadado a ruir e ser substituído pelo Socialismo.

BODE QUESTIONADOR: Mas como assim? Se os Democratas não são Neoliberais e o presidente americano é um democrata, como é que tu estás dizendo que os Estados Unidos são um país Neoliberal? Além disso, o que tem a ver a tal "influência neoliberal americana" que tu falaste acima? Se ser "neoliberal" for ser explorador, parece-me bastante óbvio que um país explorador não vai querer influenciar outros países a serem exploradores também, como a história demonstra fartamente.

PICARETA: O fato do país ser neoliberal independe do seu presidente! Tem a ver com as contingências históricas e sócio-culturais nas quais ele se desenvolveu!

BODE QUESTIONADOR: Se o país ser neoliberal ou não independe completamente do seu presidente, por qual motivo vocês comemoraram tanto a eleição do Obama? Se não é o governo do país que faz ele ser neoliberal, então é o quê? E como é possível que o neoliberalismo dos países ricos queira manter os países pobres se tais países precisam de dinheiro para comprar os produtos dos países ricos?

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E assim sucessivamente. A idéia é bombardear o picareta com perguntas e mais perguntas, sem dar a menor atenção para as respostas que são dadas a menos que elas sirvam para elaborar ainda mais perguntas. Em resumo: todo o conteúdo da conversa deve ser ignorado, à exceção daquilo que servir para produzir mais perguntas.

O Bode Questionador pode ficar ainda mais efetivo se ele souber:

- Fazer perguntas indiretas, simplesmente assumindo que o seu interlocutor disse alguma coisa; quanto mais absurdas forem estas perguntas, melhor.

- Identificar o ponto onde o seu interlocutor é "mais forte" (ou seja, o ponto que ele mais se esforçou para responder) e, volta e meia, retornar a este ponto, de preferência com "perguntas indiretas", dando a entender que ele não explicou nada sobre o tema.

- Multiplicar as perguntas, puxando novas perguntas a partir das respostas do seu interlocutor. Quanto mais confusa estiver a discussão, melhor. Aí, lá para as tantas, o Bode Questionador retoma uma pergunta feita lá atrás que passou despercebida, jogando-a junto com as outras para cima do picareta até que ele, simplesmente, não consiga lidar com todas elas.

Com esta simples atitude (que fica ainda mais mortífera quando combinada com outros tipos de bodes), um Bode Torto é capaz de neutralizar a pseudo-sapiência do vigarista intelectual e impedi-lo de disseminar a desinformação na internet.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Princípios: Trollando os trolls

Entederia errado o propósito deste blog quem enxergasse nele apenas mais um convide à baderna na internet. Na verdade, é exatamente o contrário disso.

A internet trouxe a possibilidade real de que pessoas inteligentes e bem-formadas (pessoas que efetivamente têm algo a contribuir) pudessem interagir entre si e compartilhar os seus conhecimentos, deixando-os ao alcance de todos na rede. Isto é uma coisa maravilhosa.

No entanto, como em todos os lugares do mundo, existem os espíritos-de-porcos que estão preocupados somente em impôr a sua própria opinião, pouco importando se ela é verdadeira ou falsa, pouco importando se ela é útil ou nociva. Nas ferramentas de construção colaborativa de conhecimento - como os fóruns, os blogs e as redes sociais - eles se apresentam (velada ou abertamente) como trolls.

Um troll de internet é "uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nelas". São os picaretas intelectuais que se empenham em impossibilitar as boas discussões, soterrando-as sob o lixo de futilidades, de generalizações apressadas, de mudanças de assuntos, de falsas analogias, de piadas sem graça, em suma de argumentos ad auditores capazes de cativar a atenção (e não raro a simpatia) dos leitores ao melhor estilo "estar certo é fazer os seus ouvintes concordarem com você".

Tradicionalmente os trolls foram combatidos com a máxima DON'T FEED THE TROLLS ("não alimente os trolls"), significando que eles deveriam ser simplesmente ignorados. A proposta deste blog é o oposto desta: alimente os trolls com o mesmo veneno deles, até que eles morram. Não evite a discussão, discuta; mas discuta da mesma maneira que eles fazem.

Entendemos que é às vezes mais interessante trollar os trolls do que ignorá-los por alguns motivos, a saber:

1. Um troll é uma pessoa de carne e osso como cada um de nós, que tem recursos como tempo e paciência limitados. Logo, enquanto ele estiver se defendendo da trollagem ele não estará trollando em nenhum outro lugar, contribuindo assim para a manutenção de uma internet mais limpa.

2. O grande trunfo dos trolls (além, é claro, de destruir a discussão) é o impacto psicológico de suas afirmativas nos leitores. Ora, não precisamos deixar este impacto positivo (o gostinho de "ter vencido o debate", de ter "dado a última palavra", etc.) nas mãos dos vândalos intelectuais. Também nós podemos "jogar para a platéia" e angariar a simpatia do público: se não pela clareza do raciocínio e da argumentação, ao menos arrancando o (imerecido) troféu das garras dos picaretas.

3. Não há nada a perder quando se responde a um troll com as mesmas armas dele. Na melhor das hipóteses o jogo vira a nosso favor e, na pior delas, ambos os debatedores ficam sem credibilidade - o que já é bastante positivo para nós, porque neutralizamos o ataque troll original.

Nós não somos os bandidos. Ao contrário, nós lutamos por uma internet de qualidade. Se utilizamo-nos de princípios pouco nobres, é unicamente para impedir que os trolls dominem tudo, é somente para contê-los e conter o impacto negativo de sua participação nefasta na internet. Direito tem quem direito anda, e merece respeito quem respeita os outros. Os picaretas, que sejam tratados com picaretagem. Abrace você também esta idéia e seja um BODE TORTO, o terror dos vigaristas intelectuais.

domingo, 13 de novembro de 2011

Regras Áureas: A regra dos cinco minutos

Nenhum comentário que demande mais do que cinco minutos para ser escrito e submetido é digno de um bode torto.

Isto por diversos motivos.

1. Ninguém tem tempo a perder. Os inimigos da civilização e dos bons modos são muitos (e muitas vezes financiados para fazerem o que fazem) e se comportam como verdadeiras metralhadoras giratórias, de modo que não podemos nos dar ao luxo de sermos lentos.

2. O objetivo de um bode torto é destruir, é expôr ao ridículo, é debochar, é acabar com a credibilidade do seu oponente; em bom internetês, trollar. Isto não requer muita preparação. A parte construtiva da internet de qualidade pertence a outros. Um bode torto simplesmente se lança violentamente sobre os vândalos virtuais.

3. O modo de ação de um bode torto não é a defesa bem escrita, a apologia da razão, a refutação dialética do seu oponente. Isto é para outros. Um bode torto utiliza-se dos mesmos expedientes desonestos dos seus adversários: ignora comentários, responde o que mais lhe convém, cria espantalhos, faz gracinhas, solta afirmações gratuitas, etc. Responder com coerência é cair na armadilha dos vândalos.

4. Qualquer resposta é melhor do que nenhuma resposta. Um bode torto deve ser uma máquina rápida e eficaz de atacar os seus adversários. As respostas não podem ficar pendentes. Não deixe para amanhã a resposta que você pode dar hoje.

Esta regra é da mais alta importância. A agilidade na internet é fundamental. Um bode torto deve estar sempre preparado para responder com prontidão aos ataques dos vândalos virtuais.